George Savalla Gomes.(Palhaço Carequinha.)
Quando
pensamos em circo no Brasil, fica impossível não lembrar da figura encantadora
e engraçada do palhaço Carequinha, ídolo durante décadas da criançada
obediente. Carequinha nasceu George Savalla Gomes, no dia 18 de julho de 1915,
na cidade de Rio Bonito, no estado do Rio de Janeiro. Este fluminense, filho
dos trapezistas Elisa Savalla e Lázaro Gomes, teve a sina de nascer no circo,
berço da história de vida daquele que chegou a ser considerado o melhor palhaço
do mundo.
Reza a
lenda, contada por ele mesmo nas entrevistas ao longo de sua carreira, que sua
mãe sentiu as contrações do parto enquanto caminhava no arame, em pleno
picadeiro. Levada às pressas para as barracas que serviam de camarim, Elisa deu
à luz o filho nos bastidores do Circo Peruano, pertencente a José Rosa Savalla,
avô materno de George que, com 2 anos, perdeu o pai e foi criado pelo padrasto
Ozório Portilho que o encaminhou para a profissão de palhaço.
Quando
George tinha 5 anos, Portilho colocou uma careca postiça em sua pequena cabeça
e disse: “Você será o palhaço Carequinha”. Este foi o ponto de partida de um
dos maiores mitos mundiais das artes circenses. Com sua maneira peculiar de
fazer rir, Carequinha aos poucos foi conquistando o coração das pessoas com
bordões já imortalizados como: “Hoje tem marmelada? Tem, sim senhor! E o
palhaço, o que é? É ladrão de mulher!”.
Criou o
tradicional “Tá certo ou não tá, garotada?”, que era respondido sempre com um
empolgante “Táááááá!”, em uníssono. Aliás, as crianças caíram definitivamente
nas graças de Carequinha quando ele se tornou o primeiro palhaço a ter um
programa – o Circo Bombril, que ficou no ar de 1951 a 1964, na extinta TV Tupi
no Rio de Janeiro – junto com os parceiros Fred, Zumbi, Meio-Quilo e outros.
Carequinha
inovou o conceito do palhaço no circo mundial. Tratado anteriormente como bobo,
ingênuo e imaturo, o palhaço, na sua interpretação, ganhou novos ares: “Fiz uma
nova escola. Antes de mim, o palhaço levava farinha na cara, era o bobo, só
apanhava. Eu fiz o palhaço-herói, modifiquei o estilo. A intenção era fazer do
palhaço um ídolo, e não um mártir”.
Em 1964
recebeu na Itália a medalha de ouro de Palhaço Moderno do Mundo. Devido ao seu
sucesso, Carequinha ficou famoso entre os presidentes brasileiros e tornou-se
amigo de Juscelino Kubitschek. Na década de 80, apresentou O Circo Alegre, na
TV Manchete, programa que antecedeu O Clube da Criança, de Xuxa Meneghel. Em
2001 atuou na Escolinha do Professor Raimundo, da Rede Globo. Gravou 27 LPs e
participou de cinco filmes.
Foi um
lutador na área circense, sempre citando em suas entrevistas a necessidade da
ajuda do Governo para a preservação do circo no Brasil. Por ironia do destino,
não conseguiu que nenhum dos filhos o seguisse na profissão. Isto o fez cumprir
a promessa de trabalhar até morrer. Carequinha faleceu aos 90 anos, no dia 5 de
abril de 2006, no município de São Gonçalo (RJ), em decorrência de problemas
cardíacos. Ao conceder uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2001,
Carequinha declarou: “O palhaço típico, aquele que nasce com o dom, morre
comigo”