A ameaça do Verão:
Os números são maiores do que se imagina e a garotada de classe média é a mais frágil, só que ninguém dá a devida atenção a nada disso. É nesta época que o vírus da doença pega onda no nosso organismo. Vacine sua família para dar um caldo nesse vilão
por Diogo Sponchiato
À beira-mar as crianças se divertem brincam de jacaré e jogam água umas nas outras. Aí vem a sede. A barraca da praia oferece refrigerante e um copo cheio de gelo para refrescar ainda mais a bebida sob o sol. E tem ainda aquelas pedrinhas no balde de cerveja do pai a tentação é colocá-las na boca, uma delícia no calor... Mas o vírus da hepatite A se esconde tanto na água doce quanto na salgada. Ou seja, pode estar naquelas gotas engolidas sem querer em um mergulho no mar poluído por esgotos não tratados ou no gelo feito com água de uma fonte contaminada.
Uma vez dentro do corpo, o vírus logo se instala no fígado, onde indiretamente faz alguns estragos (entenda isso no infográfico). As vítimas mais freqüentes são crianças entre 5 e 9 anos talvez porque sejam velhas demais para um adulto ficar em cima o tempo inteiro e novas demais para serem tão preocupadas com higiene. A doença é mais avassaladora, porém, nos adolescentes.
A princípio não haveria motivo para preocupações. Ora, existe vacina para a hepatite A. Mas a questão é que ela não faz parte do calendário oficial de imunização determinado pelo Ministério da Saúde. Muita gente fica sem acesso, por ter de pagar. E outros, mesmo freqüentando clínicas particulares, nem sabem da sua existência. A vacina não ser incluída no rol determinado pelo governo é insensato, afirma a hepatologista Edna Strauss, professora da Universidade de São Paulo, uma das maiores defensoras dessa causa. As notificações subestimam a real ocorrência da infecção no Brasil.
A estimativa oficial, por enquanto, é a seguinte: apenas 130 casos por ano em cada 100 mil brasileiros. Mas dados preliminares e mais precisos de um levantamento realizado pelo próprio Ministério, ainda em fase de conclusão, mostram um cenário diferente. No Nordeste, por exemplo, cerca de 41% das crianças entre 5 e 9 anos já tiveram contato com o vírus. Na turma de 10 a 19 anos a incidência sobe para 56%. Nem todos ficaram doentes mas Edna chama atenção para o restante da criançada que, sem conhecer ainda o vilão de perto, pode sucumbir a qualquer instante. No próximo banho de mar, por exemplo.
Para empunhar a bandeira em prol da inclusão da vacina a professora Edna Strauss se sustenta principalmente nas estatísticas levantadas por dois estudos publicados no The Journal of the American Medical Association. Em Israel a entrada do imunizante no calendário de vacinação levou a uma queda de 95% nos casos da doença. E nos Estados Unidos eles despencaram 76%.
Nos dois programas, só os bebês entre 1 e 2 anos foram vacinados, mas a incidência diminuiu em todas as faixas etárias. Por quê? Provavelmente porque as crianças são como armazenadoras do vírus depois de infectá-las, ele se multiplica e cai no ambiente pelas fezes.
E, se o imunizante é tão eficaz, por que não oficializá-lo? Há critérios de prioridade que incluem aspectos como mortalidade, justifica o infectologista Ricardo Marins, coordenador geral de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde. Embora a hepatite A tenha alta prevalência, não há um grande número de casos fatais, afirma, reconhecendo que o assunto merece uma análise mais aprofundada.Cinco por cento dos episódios evoluem para uma hepatite fulminante, que mata, rebate o infectologista David Uip, coordenador do Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. A causa seria uma hiper-reação dos anticorpos que atacam o fígado infectado, explica Edna. O órgão vai à bancarrota e, para salvar a vida, só mesmo um transplante.
A ameaça não está só no litoral. Segundo uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, 53% dos brasileiros não contam com saneamento básico. Só é um engano acreditar que a ameaça é maior para essa gente. As pessoas que vivem em condições precárias tendem a entrar em contato com o vírus desde a mais tenra idade e logo desenvolvem anticorpos, na maioria das vezes sem sintomas de infecção. Já o jovem que cresceu em condições adequadas não teve a chance de adquirir essa resistência. Aí, em contato com água e alimentos contaminados, sucumbe. Quanto mais velho ele for, mais grave tende a ser o quadro, diz o pediatra Norberto Freddi, do CEDIPI, conhecida clínica de vacinação paulistana. A nós cabe cobrar dos governantes que resolvam a questão. Enquanto isso, faça o que está ao seu alcance: vacine a família inteira e curta a alta estação sem medo.
UM ESTRANHO NO FÍGADO
Ao chegar lá, o vírus da hepatite A deflagra a confusão
FONTE: EDNA STRAUSS, HEPATOLOGISTA E PROFESSORA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
QUANTO MAIS VELHO, PIOR
Oito em cada dez meninos de 14 anos que pegam hepatite A amargam sintomas clássicos a infecção: a urina fica escura; as fezes, claras; a pele e os olhos, amarelados. Sem contar o tremendo mal-estar. Já em dois terços dos menores de 6 anos o contato com o vírus quase passa batido. Neles os sintomas costumam ser inespecíficos, diz a hepatologista Edna Strauss. Canseira, febre, dor de barriga..., exemplifica. Ou seja, aquilo descrito nos relatos de férias com o famoso pegou uma virose. Na minoria em que a infecção evolui seus sinais só surgem de duas a seis semanas depois da entrada do vírus.
ONDE MORA O PERIGO
Confira os principais focos de contaminação e como se precaver
ÁGUA
Em locais onde ela não passa por um tratamento adequado o vírus consegue infectá-la facilmente por meio das fezes humanas. Portanto, só consuma o líquido filtrado. E o microorganismo gosta de ambientes frios, diz o infectologista David Uip. Não à toa, ele pode ser transmitido nas pedras de gelo feito com água de torneira.
ALIMENTOS
O saneamento ineficiente favorece a contaminação de verduras e frutos do mar. Evite se alimentar em lugares suspeitos. Ao preparar saladas, deixe-as de molho em solução clorada. O.k., mariscos e ostras crus são uma delícia, mas o mais seguro é comê-los bem cozidos se não conhecer a procedência.
MÃOS SUJAS
A falta de cuidados básicos de higiene é outro fator de risco, afirma Uip. Ensine seus filhos a lavar sempre as mãos com sabão. Não deixe também que desenvolvam o hábito de levar os dedos à boca.
CONTATO COM OS INFECTADOS
Se algum parente contraiu a hepatite A, não há por que entrar em pânico. Mas, para que a infecção não se dissemine, lave os talheres do doente separadamente e jogue formol no vaso sanitário.
VACINA NOTA 10
Injetável, ela passou a ser aplicada no início dos anos 1990 e é considerada muito segura. Tem uma efi cácia de mais de 95%, garante a hepatologista Gilda Porta, do Instituto da Criança, em São Paulo. Toma-se a primeira dose a partir de 1 ano e, depois de seis ou doze meses, é dada a segunda, explica o pediatra Norberto Freddi. Elas são suficientes para proteger o organismo pelo resto da vida. Adolescentes e adultos que ainda não se vacinaram também podem receber a injeção, sem problemas. Só não precisa tomá-la quem já teve hepatite A, porque, uma vez doente, o corpo aprende a enfrentar o vírus e nunca esquece a lição.
A SAÍDA É DESCANSAR
Quem contrai a hepatite A tem só uma coisa a fazer: esperar. O organismo se encarrega de varrer o vírus. Mas a seu tempo. Não há remédio que acelere o processo que leva morosos 30, 60 dias ou mais. Os médicos prescrevem repouso até que a situação esteja sob controle. Não é necessário permanecer na cama o tempo todo, diz Edna Strauss. Só não dá para ficar passeando, indo ao trabalho ou à escola. Até porque, além de poupar o organismo, é indicado um certo isolamento. E, se você já ouviu aquela história de que é bom entupir o paciente com hepatite de doces, ignore é lenda. Aliás, como ele fica enjoado, é melhor deixá-lo comer o que lhe apetecer. Só não se esqueça de lhe oferecer muito líquido. Bem hidratado, o corpo se recupera mais depressa.
www.fvmedodificuldade.no.comunidades.net
CONTATO: (13) 3467-9848. (13) 3379-7552.
Oito em cada dez meninos de 14 anos que pegam hepatite A amargam sintomas clássicos a infecção: a urina fica escura; as fezes, claras; a pele e os olhos, amarelados. Sem contar o tremendo mal-estar. Já em dois terços dos menores de 6 anos o contato com o vírus quase passa batido. Neles os sintomas costumam ser inespecíficos, diz a hepatologista Edna Strauss. Canseira, febre, dor de barriga..., exemplifica. Ou seja, aquilo descrito nos relatos de férias com o famoso pegou uma virose. Na minoria em que a infecção evolui seus sinais só surgem de duas a seis semanas depois da entrada do vírus.
ONDE MORA O PERIGO
Confira os principais focos de contaminação e como se precaver
ÁGUA
Em locais onde ela não passa por um tratamento adequado o vírus consegue infectá-la facilmente por meio das fezes humanas. Portanto, só consuma o líquido filtrado. E o microorganismo gosta de ambientes frios, diz o infectologista David Uip. Não à toa, ele pode ser transmitido nas pedras de gelo feito com água de torneira.
ALIMENTOS
O saneamento ineficiente favorece a contaminação de verduras e frutos do mar. Evite se alimentar em lugares suspeitos. Ao preparar saladas, deixe-as de molho em solução clorada. O.k., mariscos e ostras crus são uma delícia, mas o mais seguro é comê-los bem cozidos se não conhecer a procedência.
MÃOS SUJAS
A falta de cuidados básicos de higiene é outro fator de risco, afirma Uip. Ensine seus filhos a lavar sempre as mãos com sabão. Não deixe também que desenvolvam o hábito de levar os dedos à boca.
CONTATO COM OS INFECTADOS
Se algum parente contraiu a hepatite A, não há por que entrar em pânico. Mas, para que a infecção não se dissemine, lave os talheres do doente separadamente e jogue formol no vaso sanitário.
VACINA NOTA 10
Injetável, ela passou a ser aplicada no início dos anos 1990 e é considerada muito segura. Tem uma efi cácia de mais de 95%, garante a hepatologista Gilda Porta, do Instituto da Criança, em São Paulo. Toma-se a primeira dose a partir de 1 ano e, depois de seis ou doze meses, é dada a segunda, explica o pediatra Norberto Freddi. Elas são suficientes para proteger o organismo pelo resto da vida. Adolescentes e adultos que ainda não se vacinaram também podem receber a injeção, sem problemas. Só não precisa tomá-la quem já teve hepatite A, porque, uma vez doente, o corpo aprende a enfrentar o vírus e nunca esquece a lição.
A SAÍDA É DESCANSAR
Quem contrai a hepatite A tem só uma coisa a fazer: esperar. O organismo se encarrega de varrer o vírus. Mas a seu tempo. Não há remédio que acelere o processo que leva morosos 30, 60 dias ou mais. Os médicos prescrevem repouso até que a situação esteja sob controle. Não é necessário permanecer na cama o tempo todo, diz Edna Strauss. Só não dá para ficar passeando, indo ao trabalho ou à escola. Até porque, além de poupar o organismo, é indicado um certo isolamento. E, se você já ouviu aquela história de que é bom entupir o paciente com hepatite de doces, ignore é lenda. Aliás, como ele fica enjoado, é melhor deixá-lo comer o que lhe apetecer. Só não se esqueça de lhe oferecer muito líquido. Bem hidratado, o corpo se recupera mais depressa.
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