O pulmão é o
maior órgão do corpo. Sua função é permitir que o ar que respiramos entre em
contato com o sangue que circula em nosso organismo. Esse contato possibilita
uma troca gasosa essencial para a vida. Basicamente, ela consiste na absorção
do oxigênio pelo sangue a fim de, ligado à hemoglobina, ser transportado para
todas as células do corpo, e na eliminação do gás carbônico, que as células
produziram para gerar energia.
Para
realizar essa troca, o pulmão é composto de uma membrana muito fina, chamada
membrana alveolar, que separa aproximadamente um litro de sangue de cinco
litros de ar. Esse volume corresponde à capacidade máxima de ar que o pulmão de
um adulto de 70 kg suporta.
Se a
superfície da membrana alveolar de um pulmão fosse estendida como um tapete,
ele teria o tamanho de uma quadra de tênis, por volta de 130 m2. A extensão
dos vasos sanguíneos em contato com essa membrana é um pouco menor, 115 m2 mais ou menos. O mais impressionante, porém,
é que essa área inteira é “lavada” por somente 200 ml de sangue. Portanto, para
recobri-la por inteiro, a camada de sangue em contato com a membrana tem de ser
muito fina. Tão fina que, nesses vasos, passa um glóbulo vermelho por vez, algo
que não ocorre nos demais órgãos do corpo.
Outro fato
intrigante é que essa quadra de tênis é feita apenas com um litro de tecido.
Por isso mesmo, as perguntas mais frequentes sobre o pulmão refletem o desejo
de saber como a quadra de tênis se mantém com tão pouco tecido e como está
dobrada para caber dentro do tórax. Para ter uma ideia, o desafio é igual a
fazer uma dobradura com uma folha de papel sulfite, que se encha e se esvazie
de forma cíclica, e caiba dentro de um
dedal.
Como construir
um sistema que leve ar e bombeie sangue ao mesmo tempo para algumas centenas de
milhões de unidades de troca, os alvéolos?
A solução
ocorre durante a fase de morfogênese do feto, ou seja, na fase em que os órgãos
se formam. Enquanto o sistema respiratório se divide em série, com uma unidade
ligada à outra, o sistema vascular se divide em paralelo, de forma que a partir
de um ramo inicial da artéria pulmonar, as divisões estabeleçam contatos em
diferentes áreas de ventilação. Imagine uma tela de bordado. A tela é formada
pelas unidades respiratórias e os fios que se entrelaçam na tela são os vasos
sanguíneos, isto é, os capilares pulmonares. Entendemos por capilares, as
ramificações das artérias que, ao se juntarem novamente, formam as veias pulmonares
que levam o sangue oxigenado de volta para o coração.
Esse padrão
só tem início após a 15a divisão dos brônquios, que constituem as vias de
condução do ar. Após entrar pelo nariz e boca, o ar chega aos pulmões pela
traqueia, que se divide em brônquio principal direito e esquerdo. A partir daí,
ocorre a divisão em brônquios lobares, seguida de bifurcações sucessivas. A cada divisão, o tamanho de um dos ramos e
seu diâmetro guardam relação constante com o ramo de origem. Essa relação é
muito importante para evitar danos causados pelo fluxo de ar, porque esse tipo
de ramificação reduz a turbulência. É
como se fosse uma árvore de cabeça para baixo. O tronco é a traqueia e os
brônquios e suas divisões são os galhos, cada vez mais finos e em maior
número. Como o sistema arterial e venoso
segue essas divisões em paralelo, temos três árvores misturadas em uma só.
Como é
possível sustentar toda essa árvore com uma camada de tecido que tem menos de
uma micra de espessura? A árvore é mantida por uma série de fibras, formadas
por diferentes proteínas, que dão estabilidade ao sistema. Essas fibras são
todas interconectadas e se dividem em três eixos principais. O sistema axial
parte do centro do pulmão em direção à periferia assim como os aros de uma roda
de bicicleta. Esse sistema é mais rígido e está diretamente ancorado nos
brônquios. Ele se liga também à periferia do pulmão e forma uma camada
contínua, a pleura, que reveste o órgão como a parede de uma bexiga.
Interconectado a tudo isso, fica o sistema septal, que forma a parede de cada
alvéolo. O sistema septal é como uma rede de pesca que pode aumentar ou
diminuir de tamanho conforme o pulmão se enche ou esvazia. De fato, uma vez que
normalmente só fazemos força para encher os pulmões, são as propriedades elásticas
desse sistema de fibras que fazem o pulmão esvaziar. Novamente, é como a
bexiga, que uma vez cheia tende a esvaziar para que suas paredes voltem à
condição de repouso.
Essa visão
do pulmão facilita compreender por que, por exemplo, no enfisema, a pessoa
sente muita falta de ar. Esse sintoma surge como consequência da destruição do
sistema septal, as paredes dos alvéolos. Para além da perda de superfície de
troca que resulta dessa destruição, vamos ter uma desigualdade entre as áreas
onde o ar penetra e os vasos sanguíneos, a chamada desigualdade
ventilação/perfusão. Essa desigualdade, que decorre de alterações nessa
arquitetura tão complexa, é a principal causa dos distúrbios nas trocas gasosas
que caracterizam as doenças pulmonares.
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Assistir a
alguém fumando faz a criança ou o adolescente tanto experimentar um cigarro
mais cedo, como passar a fumar regularmente.
Essa afirmação vale para os que assistem à cena ao vivo, ou a veem
veiculada pelos diferentes meios de comunicação, principalmente nos filmes.
A essa conclusão chegaram pesquisadores
ingleses depois de acompanhar 5.166 crianças e adolescentes até a idade de 15
anos, no Reino Unido. Por meio de entrevistas, eles identificaram os filmes
mais assistidos nessa faixa de idade entre os 366 de maior bilheteria nos
Estado Unidos. Revendo os filmes, avaliaram quantas vezes as crianças eram
expostas a cenas de atores fumando. Em média, as crianças inglesas assistiram a
68 cenas em que havia consumo de cigarro.
A conclusão
dos pesquisadores ingleses, nesse trabalho, foi que, quanto mais cenas a
criança assistir, maior será o risco não só de experimentar um cigarro
precocemente, mas também de tornar-se um fumante regular.
SAIBA MAIS
VÍTIMA DO
CIGARRO
TABAGISMO
DEPOIMENTOS
ANOS DE
FUMAÇA
Pesquisas
nos Estados Unidos, Nova Zelândia, México e Alemanha, embora seguindo
metodologias diferentes, apontaram para resultados semelhantes. Os autores
fizeram uma metanálise desses dados. Esse tipo de pesquisa considera tanto o
número de pessoas quanto a resposta de cada estudo, o que permite chegar a um
resultado balanceado.
A conclusão,
portanto, baseada em diferentes níveis de exposição, é que assistir a cenas de
fumantes aumenta em até 100% o risco de experimentar um cigarro e, em até 68%,
o risco de passar a fumar regularmente. Esses dados levam também em conta as
condições familiares e sociais relacionadas com o hábito de fumar.
É muito
importante reforçar que, além de não dar o exemplo em casa, os pais e educadores
devem preocupar-se com esse tipo de exposição que a mídia favorece. O tabagismo
é a principal causa de morte entre todas conhecidas pelo homem e a dependência
de nicotina começa principalmente na adolescência.
Por isso,
além de violência e sexo, a classificação dos filmes deveria levar em conta as
cenas de tabagismo.
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A exposição
de crianças à poluição atmosférica está relacionada com a diminuição da
capacidade pulmonar.
Embora essa
observação seja relativamente antiga, algumas incertezas ainda persistiam. Na
Califórnia, já havia sido demonstrado que crianças entre 10 e 18 anos de vida
tinham a função pulmonar comprometida de acordo com o grau de exposição à
poluição atmosférica. Faltava definir, porém, em que momento da vida da criança
a exposição à poluição causava mais danos e, também, se esse efeito era mais
acentuado em crianças com história de doenças respiratórias, como asma e
alergias.
Para
responder a essas dúvidas, pesquisadores suecos acompanharam mais de 1.900
crianças desde o nascimento, estabelecendo medidas da função pulmonar aos oito
anos de idade. Além dessa medida, foi verificado o grau de atividade e a
presença de sintomas respiratórios de asma e alergias com um e com oito anos de
idade. Para calcular a poluição, os autores
verificaram a exposição à quantidade de material sólido em suspensão no ar.
Quando esse material tem menos de dez micra de diâmetro, o chamado PM10, a
medida em miligramas por metro cúbico de ar é um parâmetro usado
internacionalmente e está relacionado à poluição emitida por veículos de
transporte motorizados (carros e ônibus, entre outros).
Sabendo os
níveis de PM10 do endereço, da escola e dos outros locais em que a criança
ficava, foi possível identificar grupos com níveis diferentes de exposição. Uma
diferença de sete microgramas de PM10 aumenta quatro vezes a probabilidade de
uma criança ter obstrução das vias aéreas.
O primeiro
ano de vida é o período mais determinante desse risco. Crianças expostas a mais
poluição durante o primeiro ano tinham 50 ml a menos de capacidade expiratória
(cerca de 5% da média verificada). Quando apresentavam também antecedentes de
alergia respiratória, a perda chegou a 140 ml (mais de 10% de perda). A capacidade expiratória é menor, porque
ocorre uma diminuição do fluxo de ar pelos brônquios. Isso acontece porque a
poluição causa inflamação nas vias respiratórias. Como consequência, as
crianças têm dificuldade em esvaziar o pulmão, o que causa tosse e redução da
capacidade de exercício.
Os
resultados confirmam que a poluição piora a função pulmonar de crianças. Quanto
mais precoce a exposição, pior, principalmente no primeiro ano de vida.
Sabendo-se que a poluição em São Paulo variou entre 30 e 50 mcg/m3 em
20122, quatro a sete vezes o índice
verificado, o risco de obstrução a que estão expostas nossas crianças é
evidente.