Se pra você
felicidade for algo subjetivo, uma construção pessoal, um valor interior mais
do que exterior – e é o que felicidade significa para a maioria das pessoas -,
então é certo que o dinheiro por si só não traz felicidade. Mas também não
significa o oposto: que ele traga infelicidade, embora essa seja uma crença
introjetada por muitos. Porque o dinheiro proporciona conforto, permite que
você tenha um plano de saúde, uma boa casa, acesso a melhores escolas, enfim,
uma vida mais digna do ponto de vista material. Agora, se ele também vai
contribuir para gerar a sensação de felicidade, isso é algo particular e que
dependerá de suas crenças.
Quem tem
dificuldade em tomar decisões pode angustiar-se com a liberdade de escolha que
o dinheiro traz. Ou, mesmo sem se dar conta, pode associar a ideia de ganhar
mais – algo que deseja! – com a possibilidade de investir errado e perder tudo,
com o medo de ser assaltado, com a inveja dos amigos e parentes ou com a
expectativa de desavenças familiares. Lá no fundinho, ainda que não admita, a
pessoa crê que ocorrerá alguma desgraça para “compensar” esse prêmio, e tal
crença pode levá-la a sabotar o próprio êxito financeiro. É como se para ter menos
problemas a solução fosse ter menos dinheiro.
Gente assim
vive um conflito: padece por não ter dinheiro e padece com a hipótese de tê-lo,
receando as consequências que sempre vê como negativas.
Esse
conflito envolvendo dinheiro é reforçado por uma interpretação cristã muito
disseminada no Brasil: a de que é nobre ser desapegado das coisas materiais ao
mesmo tempo em que se trabalha com dedicação. Em países cuja cultura religiosa
é a de que “Deus ajuda quem se ajuda”, o dinheiro é bem-vindo porque é uma
materialização dos talentos concedidos por Deus, desde que obtido por meios
éticos, é claro.
O conflito
tem solução?
Tem sim, e a
primeira coisa é reconhecer que os pensamentos associando dinheiro à desgraça,
culpa e infelicidade não são racionais, costumam ser herdados dos familiares e
devem ser questionados. Afinal, se trabalhamos com dedicação é justo desfrutar
da recompensa. Desejar a felicidade, as coisas boas, e ter medo de perdê-las é
até certo ponto natural. O que não é natural é ser refém dessa sensação. E para
livrar-se dela é necessário atualizar nossas crenças, conquistas e
competências.
Isso é
libertador porque nos permite escolhas pautadas por nossos projetos de vida e
valores, ao invés de seguir crenças e mitos sociais cuja prática se revela
ineficaz… e infeliz.
Dinheiro pode
não comprar amor, mas pode comprar felicidade. O segredo é: você tem de
gastá-lo com outra pessoa. Pesquisadores da University of British Columbia
(UBC) e da Harvard Business School relatam na Science que pessoas que gastam
bastante com presentes para outros e fazem doações para caridade são mais
felizes que seus pares. Como parte do estudo, os psicólogos da UBC deram uma
bolada de dinheiro para os voluntários gastarem; metade deles foi instruída a
gastar consigo mesmo e a outra a gastar com outras pessoas. Os que gastaram com
outros avaliaram a si mesmos como sendo mais felizes, em média, do que os que
gastaram com eles próprios. As descobertas combinam com as de uma pesquisa
feita com 16 pessoas da Harvard Business School em que se pediu a elas para medir
sua felicidade antes e depois de receberem bonificações em dinheiro. Os que
gastaram sua grana com outros avaliaram a si mesmos como mais felizes do que os
colegas de trabalho que deixaram de dividir sua riqueza. “Essas descobertas
sugerem que alterações bem pequenas na distribuição de gastos, algo tão pouco
como US$ 5, pode ser suficiente para produzir ganhos reais de felicidade em um
determinado dia”, diz a autora do estudo e psicóloga da UBC Elizabeth Dunn.
O dinheiro
traz felicidade e ter mais dinheiro deixa as pessoas mais felizes,
independentemente de já terem o suficiente para se manter, garantem cientistas
especializados em economia em um estudo publicado nesta segunda-feira.
Médico ensina como a sua mente pode te ajudar
a ser feliz
Embora o
vínculo entre dinheiro e bem-estar não surpreenda, o novo estudo contradiz
pesquisas anteriores que sugeriram que este efeito diminuía acima de um certo
nível de renda, que permite às pessoas atenderem às suas necessidades básicas.
Os
economistas da Universidade de Michigan Betsey Stevenson e Justin Wolfers
afirmam em seu artigo, pulicado na edição de maio do periódico "American
Economic Review, Papers and Proceedings", que não há evidências de um
ponto "de satisfação" na equação dinheiro-felicidade.
"Não
encontramos evidências de um ponto de satisfação", escreveram.
"O
vínculo entre renda e bem-estar que encontramos quando examinamos apenas os
pobres é semelhante àquele encontrado quando examinamos apenas os ricos",
destacaram.
Eles
descobriram que o vínculo é válido "ao se fazer comparações cruzadas entre
países ricos e pobres assim como ao se fazer comparações entre pessoas ricas e
pobres de um país".
O estudo é o
mais recente de um campo que rende muita discussão e parece contradizer uma
teoria denominada "Paradoxo de Easterlin", desenvolvida em 1974 por
Richard Easterlin, que está na Universidade do Sul da Califórnia.
A pesquisa
de Easterlin, baseada em consultas feitas no Japão, sugeria um pequeno ou
nenhum aumento na felicidade nacional apesar do milagre econômico que o país
viveu após a Segunda Guerra Mundial.
Estudos
posteriores apontaram para uma renda anual nos Estados Unidos de US$ 75.000 e
em países pobres numa faixa entre US$ 8.000 e US$ 25.000, além da qual o
dinheiro não impactaria mais o bem-estar.
Mas
Stevenson e Wolfers afirmaram que a pesquisa demonstrou que o Paradoxo de
Easterlin e teorias similares simplesmente estão equivocadas.
"Se
houver um ponto de satisfação, ainda não o alcançamos", afirmaram.
"Nós
não encontramos evidências de uma quebra significativa, tanto na relação
felicidade-renda, quanto na relação satisfação-renda, mesmo com rendas anuais
acima do meio milhão de dólares", acrescentaram.
Stevenson e
Wolfers usaram dados de três diferentes estudos cruzados entre países,
incluindo a consulta Pew Global Attitudes, a pesquisa Gallup World Poll e o
International Social Survey Program.
"Eles
demonstram uma clara relação entre o nível médio de bem estar em um país com
sua renda média", escreveram.
"Enquanto
os ganhos com a renda ficam mais lentos à medida que os países enriquecem, eles
nunca desaparecem. Dobrar a renda de um país tem o mesmo impacto no bem estar
de seus cidadãos, independente do ponto inicial", emendaram.
Stevenson e
Wolfers, que também é um membro não residente da Brookings Institution, têm
feito estudos nesta área há anos e a última pesquisa sustenta suas conclusões
de um estudo de 2008.
"Enquanto
à ideia de que há algum nível crítico de renda além do qual a renda não impacta
mais o bem-estar (...) trata-se de algo em desacordo com os dados",
concluíram.
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